O grande problema da criação de Buldogues Campeiros é a ausência de linhas de sangue definidas. Salvo algumas exceções, há uma grande variabilidade. São poucos os cães produzidos que carregam características bem fixadas. E ainda assim, a melhoria que esses cães proporcionam duram apenas uma ou duas gerações. A explicação para esse problema da criação de BC está na ausência de um programa de criação definido, tanto coletivo como individual.
Para estabelecer uma linhagem, não basta ter cães excepcionais. O principal fator é um criterioso programa de cruzamentos e seleção. Acontece que foram pouquíssimos os criadores que souberam direcionar um programa de acasalamentos.
Um programa de criação sólido pode produzir resultados até mesmo partindo de indivíduos não tão bons, ao passo que mesmo com cães excelentes é possível produzir cães medíocres sem um planejamento. Para ter menos chances de errar, é importante atentar-se para algumas etapas, ou seja, estabelecer objetivos de criação, selecionar matrizes e padreadores e escolher corretamente acasalamentos. Obviamente, também, deve-se levar em consideração que o trabalho de criação é de longo prazo.
Objetivos de Criação
O padrão da raça deve ser sempre o ponto de partida para se estabelecer os objetivos de criação. É analisando o padrão que o criador definirá quais qualidades irá valorizar e quais defeitos pretende eliminar da criação. Claro que sempre privilegiando exemplares sadios e férteis.
Antes de qualquer coisa, o criador deve, a partir da leitura do padrão da raça, formar a imagem de seu cão ideal. Para isso, deverá levar em consideração que o padrão tem aspectos objetivos e subjetivos. Dentro dos aspectos objetivos, não há qualquer margem de liberdade. Exemplificando, a proporção do cão deve ser de um quadrado em relação a altura do chão e comprimento do dorso. A descrição é precisa e qualquer desvio será uma falta, um defeito.
Por outro lado, no que se refere aos aspectos subjetivos, existe uma área de liberdade. O padrão descreve que o pescoço deve ser relativamente curto e musculoso. Entretanto, não define exatamente quão curto ou musculoso, nem mesmo qual é o ponto de equilíbrio entre essas duas características. Há um campo dentro do qual cães com pescoços diferentes estarão igualmente dentro do padrão. Claro que evitando os excessos, tais como, pescoço curto demais, muito longo, pouco musculoso e franzino. É uma questão de razoabilidade, de equilíbrio e balanceamento.
Aliás, equilíbrio e balanceamento são fatores chaves em qualquer programa de criação. Em termos de estrutura, alterações em uma região específica, geralmente, mostram consequências por todo o corpo. Por isso também não adianta estabelecer objetivos conflitantes para um plano de criação.
Também se deve atentar para o fato de que muitas vezes defeitos vêm acompanhados de qualidades e vice-versa. É o caso das cabeças pesadas e expressivas que geralmente vêm acompanhadas de excesso de barbelas. Por isso, também faz parte do plano de criação estabelecer quais defeitos se pretende suportar em uma linha de sangue para se ter determinadas qualidades.
Do mesmo modo, o que é correto em determinado cão pode ser defeituoso em outro. Nesse sentido, um cão com dorso mais ascendente, para ter as angulações em equilíbrio, tem a angulação dianteira mais aberta e a traseira mais fechada, ou seja, quase ausência de angulação nos posteriores e as anteriores com tendência ao achinelamento. Já um cão com o dorso menos ascendente em direção à garupa terá a angulação dianteira mais fechada e a traseira mais angulada para tê-las balanceadas.
É por tais aspectos que muitos consideram a criação de cães como uma arte. É certo que o padrão estabelece algumas limitações, mas há uma grande margem de liberdade para diferentes estilos de criação. Nesse aspecto, é bom lembrar que o Buldogue Campeiro tem forte influência do antigo Buldogue Inglês, que era um cão com certa diversidade, pois reunia desde tipos semelhantes ao Pit Bull de hoje até os que se assemelhavam mais ao BI moderno, porem também teve a participação de diversas outras raças. Em outras palavras, o Buldogue Campeiro tem, nas suas origens próximas e remotas, a diversidade. Nisso reside a explicação para o grande número de cores dentro da raça e mesmo para os diferentes estilos de cães. Tanto que é possível em uma mesma ninhada termos cães com estilos distintos, que se assemelham ao antigo Bulldog Inglês em diferentes períodos da história.
Cabe ao criador, dentro de tal pluralidade de tipos, escolher e fixar, dentro do padrão, o estilo de sua criação, ponderando todas as características que deseja selecionar e as que objetiva excluir.
De tal modo, um plano de criação deve selecionar animais saudáveis e férteis e que se assemelhem a um ideal fixado pelo criador com base no padrão da raça. O balanceamento, a harmonia e o equilíbrio são fundamentais no estabelecimento desse ideal. Também, faz parte da fixação dos objetivos de criação estabelecer quais defeitos esta disposto a suportar e quais qualidades se deseja valorizar.
Cabe, ainda, fazer uma última advertência no que tange aos objetivos de criação: mudá-los radicalmente significa começar do zero todo o trabalho para se estabelecer uma linha de sangue.
Um comentário:
Prezado Ivanor, crio Mastiff Inglês, um cão com pouca variabilidade e agora começo um trabalho conjunto com meu amigo Adriano, do Estância dos Bordogas, aqui em Dos Irmãos. Queria deixar um elogio a tua eloqüência e dedicação as estas raças e parabéns por teus conhecimentos sobre genética de cores ... tenho a impressão que ainda vamos conversar bastante.
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