quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Genética das cores


Existem muitas fontes que abordam conformação, padrão e muitos detalhes da criação de cães, dos bulldogs em geral e das raças tratadas neste blog. Porém um ponto que tem pouca literatura disponível é o que se refere às cores dessas duas raças brasileiras.  Em função de sua formação, com cruzamentos aleatórios com cães de diversos tipos, os buldogues brasileiros herdaram  as variações de cores que sem duvida as tornam as raças Bull com a maior variedade de possibilidades.
Nesta parte vou abordar de forma superficial o que aprendi com literatura especializada e, principalmente, na prática da criação. Todas as informações aqui publicadas foram comprovadas em condições reais de cruzamento.
Genética das cores


As cores são determinadas por dois tipos de  pigmento, dentro de células chamadas
Melanócitos, que estão presentes no folículo piloso dos animais. Um
pigmento determina a cor preta, chama-se eumelanina, o outro pigmento
determina a cor amarela, chama-se feomelanina. Os pigmentos no
citoplasma destas células ficam em cápsulas chamadas de grânulos, que
podem variar de forma e tamanho. A interação destes dois pigmentos, o
tamanho, a quantidade e a forma como eles estão presentes nos grânulos,
dentro dos Melanócitos, é que determina de que cor será visto o cão.
Vale destacar que no pelo agem tanto a eumelanina quando a feomelanina, porém na pele, mucosas e olhos, apenas a eumelanina está presente, portanto as variações nesses locais vão do preto, fígado (chocolate e red nose) e azul (blue nose)

Estas formas de interação entre os pigmentos são determinadas por Genes,
que, quando atuam, fazem com que os pigmentos sejam mostrados de
maneiras variadas. Estes Genes só atuam aos pares e são chamados de
Alelos, no par de Genes um alelo vem do pai e outro vem da mãe do animal.
O local onde estes alelos estão localizados no cromossomo chama-se
Locus (plural Loci). Os alelos podem ser dominantes ou recessivos.
Quando há a presença de somente um alelo dominante a característica
determinada por ele se apresenta, mesmo que o outro alelo seja recessivo,
para a característica do alelo recessivo ser apresentada na cor, os dois
alelos devem ser recessivos. Existem ainda sub-dominâncias entre os
diferentes alelos recessivos de um tipo de gen, um é mais dominante que o
outro, embora os dois sejam recessivos se sobressai sua característica, às
vezes sem apagar totalmente a característica do outro.

Alguns Loci determinam a cor (B, D e E), outros somente qual a padronagem
da cor (A, M, S e T) e outros (K) os dois.

Abaixo uma pequena explicação da ação de cada Gen envolvido no
processo de coloração dos cães. No sistema de nomenclatura os alelos dominantes são representados por letras maiúsculas e os recessivos minúsculas.

Locus A:
Sequência de dominância : Ay - aw - as  - at - a

Determina a distribuição dos dois pigmentos no mesmo folículo piloso. Este
Locus determina ainda uma cor mais escura no dorso que no ventre do
animal. Este Locus pode ter vários alelos recessivos, que determinam a
padronagem que o amarelo terá em relação ao preto, no corpo do animal,
mesmo nos heterozigotos com Ay:

Ay - Dominante, provoca uma distribuição dos dois pigmentos, preto e
amarelo, aleatoriamente nos pelos, contendo pelos pretos e pelos amarelos
misturados em várias nuances ou pelos amarelos com pontas escuras. 
aw - Recessivo, determina a cor selvagem, com pelos claros de pontas
pretas, dos lobos por exemplo.
as - Recessivo, quando duplo (asas) provoca o aparecimento de um tipo de
sela preta no animal.

at - Recessivo, quando duplo ( atat ) provoca marcação Tan (Canela) bem
definida em partes específicas do animal, é a marcação Tan dos Dobermans,
Rotweillers, etc. Também determina o padrão tricolor.

a - Recessivo, também chamado preto recessivo.


Locus B:

Determina a intensidade da cor do pigmento preto, Eumelanina, que
enxergamos no animal. Este Locus tem 2 alelos:

B - Dominante, vemos o preto normal, a Eumelanina é preta.
b - Recessivo, vemos o preto como chocolate, a Eumelanina é marrom.

Locus D:

Determina a quantidade de pigmento preto, causando diluição. Este gen dilui todas as cores com eumelanina, tornando cães pretos azuis e chocolates em Isabela quando em homozigose.

Locus E:

O par de alelos recessivos determina o completo desaparecimento da cor
preta deixando só a cor amarela, Feomelanina, nos pelos. Esconde todas as
cores que tenham o preto presente, inclusive os merles, tricolores, preto e tan, etc. Este Locus tem 3 alelos:

EM - Dominante, provoca a aparição de uma máscara escura em animais
claros.

E - Dominate, a cor preta está presente normalmente.

e - Recessivo, não se enxerga preto, só amarelo.

Locus K:

Determina se a cor preta será dominante nos pelos do animal, interferindo
diretamente no efeito do Locus A, como se ligasse ou desligasse o gen.
Acha-se ainda que heterozigotos para este Locus (Kk) podem apresentar
marcações "fantasmas" do Locus A, que é um preto com manchas amareladas bem suaves, ou ainda manchas Tan nos locais de Tricolores, mas quase imperceptíveis. Também determina a marcação tigrada.

Este Locus tem 3 alelos:

K - Dominante, a cor preta predomina, independente do gen que esteja no
Locus A.
kbr – Dominante. É o tigrado. Sempre se manifesta no fenótipo se estiver presente no genótipo. Provoca uma distribuição do preto em forma de listras sobre o fundo dourado. Apenas não é percebido quando a cor de fundo e as estrias tem a mesma cor, como em cães pretos ou alguns chocolate.

ky ou k - Recessivo, permite a ação dos alelos do Locus A. O par está
obrigatoriamente presente em todos os cães com marcações Tan (tricolores).

Locus M:

Determina uma distribuição e diluição completamente aleatória do pigmento
preto e suas variantes, deixando os cães com manchas de tamanhos e tons
de cinza/marrom bem variados, tipo uma pedra de mármore, daí o nome da
cor, Merle. Este Locus tem 2 alelos:

M - Dominante, quando presente, apenas em um dos alelos (Mm), determina
o padrão descrito acima. Em dose dupla ( MM ) pode ser letal ou provocar
diversas doenças, já que a distribuição do pigmento é tão aleatória e grande
que pode afetar, por exemplo, a pigmentação interna dos olhos e ouvidos
dos animais, causando vários tipos de cegueiras, ou mesmo surdez.

m - Recessivo, a cor normal está presente, portanto cães não necessariamente Merles ( mm )

Locus S:

Determina o padrão dos desenhos das manchas brancas pelo corpo. Este
Locus tem vários alelos.

S - Dominante, determina cores sólidas, sem manchas brancas.

si - Recessivo, chamado de marcada, coleira, colar irlandês, é o padrão de manchas brancas
mais comum dos Border Collie e Boxer.

sp - Recessivo, chamado de malhado, é o padrão de cães coloridos
com muitas ou poucas manchas coloridas fora dos lugares determinados pela
padronagem coleira.

sw - Recessivo, chamado de branco extremo, é o padrão daqueles cães
extremamente brancos, sem marcas coloridas pelo corpo ou somente nas
orelhas e base da cauda. Típico do Bull Terrier branco.


Locus T:

Determina o aparecimento de manchas coloridas, tipo pintas, em todo
ou em parte do branco do corpo do animal, é a cor do Dalmata. Este Locus tem 2
alelos.

T - Dominante, determina o aparecimento da característica.
t - Recessivo, sem padrão salpicado, cor normal.
Particularidades dos bulldogs
Nos últimos anos tem surgido muitas manifestações de cores nos buldogues brasileiros. Algumas incomuns até mesmo em outras raças como cães salpicados, típica da cor belton do Setter, por exemplo. Porém essas ocorrências carecem de estudo, visto que nos spaniels o salpico surge em marcações brancas de cães com manto colorido, enquanto que no BC, surgiu em cães brancos. Pode ter relação com o merle, mas é provável que tenha ação de diversos gens, pois existe a possibilidade de haver gens que agem na diluição da feomelanina que se torna branca, enquanto que a eumelanina fica diluída (azul ou chocolate).


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